domingo, 27 de janeiro de 2008

As Duas Mãos de Deus
Excertos de “O Meu Cristo Partido” de Ramón Cué
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Não podemos dar um passo na vida sem tropeçar na mão direita de Cristo. Segue-nos por todos os caminhos. Avançamos por uma paisagem fantástica e invisível, em que a mão de Deus se multiplicou até ao infinito, acariciando-nos, levantando-nos, perdoando-nos. E é luz, carícia, relâmpago, freio, pranto, fogo, sorriso, perdão, paciência...
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A mão direita é clara, aberta, transparente, luminosa. Dá a cara. Entra directa. Não se disfarça. Actua de dia. Em pleno sol. Fala com voz normal. É de todas as horas.
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A mão esquerda procura atalhos, serve-se de rodeios; é calculo e diplomacia, não tem pressa; cola-se à luva e à camuflagem, se necessário. Actua à distância. Disfarça a voz. Esconde-se na sombra ou espera pela noite. Passa a gritar como um ciclone, ou em silêncio como um punhal. Contudo, ainda que esquerda, não é maquiavélica, nem traidora, porque a move o Amor.

Para cada alma tem Deus duas mãos. Porém emprega-as de diverso modo em cada caso porque todas as almas são diferentes. E a conquista de cada uma é um jogo pessoal de Deus e dela. Que não volta a repetir-se, porque jamais se pode repetir exactamente uma alma e a sua história.

Há almas que se deixam prender pela mão direita. Noutras, alternam esquerda e direita, as duas mãos divinas. Há almas nas quais, fracassada a direita, Deus tem de empregar a fundo a mão esquerda.

Com a direita, como a pombas brancas e a ovelhas dóceis, Deus conquistou João Evangelista, Francisco de Assis, João da Cruz, Francisco Xavier, as duas Teresas – a espanhola e a francesa. Não é que a mão direita elimine a luta, não, nem a dor, nem a renúncia. Mas é cara a cara, em pleno sol.

Para conquistar Pedro e Paulo, Madalena, Agostinho ou Inácio de Loyola, Deus teve que empregar a mão esquerda. Diante da mão direita debatem-se, revoltam-se, obstinam-se. Entra então em jogo a mão esquerda. Mas na sombra, sem dar a cara, buscando um disfarce. A mão de Deus – o seu Amor – inventa uma engenhosa e divina metamorfose e transforma-se em raio, em bala de canhão, em dois olhos com lágrimas ou num galo que canta de noite.

O relâmpago cega Paulo a quem não conseguiram iluminar os olhos claríssimos e agonizantes de Estêvão no martírio que quis ser mão direita de Deus. O relâmpago cega-o, sepultando-o na noite, para que nessas trevas brilhe a luz nova de Damasco. A bala de um canhão francês leva a perna a Inácio de Loyola que tinha suportado e repelido, sem jamais capitular, todos os suaves ataques da mão direita de Deus, conseguindo a sua rendição.

O canto de um galo que acutila a noite, tem mais eloquência para Pedro do que as palavras directas e transparentes do Mestre. Então entende tudo e desata a chorar.

E a rebeldia intelectual de Agostinho, que flutuou sempre de cabeça erguida sobre as procelosas e ocânicas tormentas dos seus pensamentos, acaba por perecer afogada nos dois mansos arroios de lágrimas que rolam pelas faces de sua mãe, Mónica.
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E a murros bruscos e desalmados, afastamos continuamente da nossa beira essa mão direita de Deus que, suave, calada, insinuante, dorida e paternal, tratava, adejando, de ser carícia, sorriso, vôo, esperança, perfume, bálsamo e beijo na nossa vida.
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Diante da mão esquerda de Deus que, quando actua, irrompe quase sempre inesperada e implacável na nossa existência, a primeira reacção é um grito de protesto, de rebeldia, de desespero.
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Julgamos Deus como único responsável desta dor que, por ser tão terrivelmente profunda, não pode vir das criaturas e, logicamente, enfrentamos Deus como culpado. E gritamos-Lhe. Perguntamos-Lhe: Porquê? Porquê? Exigimos. Intimamo-Lo. Desafiamo-Lo. Condenamo-Lo. É injusto, cruel, desumano. Não tem coração de pai. Pai? Se fosse pai, não me trataria assim! E revolvemo-nos, cercados e impotentes, destroçados e aniquilados, contra a terrível mão esquerda de Deus. Gritamos. Protestamos. Revoltamo-nos. Depois ficamos sós.... Vêm as primeiras lágrimas nervosas e escaldantes. E sem o notarmos, desabrocha a primeira oração. Tornamos a protestar. Contra Deus. E contra a nossa primeira oração. Vem o cansaço. Outra vez sós... As lágrimas já são mais serenas. Já rezamos sem protestar Temos vontade de beijar algo... o quê? Sim. Isso. Já sabemos: um crucifixo. E com um beijo dizemos a Deus que está bem tudo quanto Ele determinar.
Terrível, violenta, dura, implacável, mas bendita mão esquerda de Deus! É o beijo que mais custa a dar. Mas é o mais saboroso de todos os beijos! O mais difícil é dar o primeiro. Depois ... já não se pode viver sem beijar a mão esquerda de Deus.

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E é este o disfarce primitivo e verdadeiro da tua mão esquerda: a Cruz!
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Digo-te em nome de todos, porque todos nós somos corajosos para to pedir a partir de agora:
- Senhor, se não basta, para nos salvar, a ternura da tua mão direita, desprega a esquerda e disfarça-a do que quiseres – fracasso, calúnia, ruína, acidente, cancro, morte ... Que sejamos filhos da tua mão. Da tua direita ou da tua esquerda.


Dá-me a tua mão, ainda que seja a esquerda! Tanto faz, se for a tua. Se segurar a tua mão, não receio fugir. Se segurares a minha, não receio perder-me. Dá-me a tua mão, ainda que seja a esquerda!

Porque não lhe beijas a mão esquerda, antes de te deitares esta noite? E aconteça o que acontecer!
Anda! Atreve-te!

Abraço da Golfer

(e um beijo na mão esquerda de Deus)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

CARTA SOBRE A ORAÇÃO (Última parte)
A Eucaristia e a Beleza de Deus, Bruno Forte

Um dom particular que a fidelidade na oração te dará é o amor pelo próximo e o sentido de Igreja: quanto mais rezas, mais sentirás piedade de todos, mais quererás ajudar quem sofre, mais terás fome e sede de justiça para todos, especialmente para os mais pobres e fracos, mais aceitarás carregar os pecados dos outros para completares em ti o que falta à Paixão de Cristo a favor do seu Corpo, a Igreja.
Rezando, sentirás como é belo estar na barca de Pedro, solidário com todos, dócil à orientação dos Pastores, amparado pela oração de todos, pronto a servir os outros na gratuitidade, sem nada pedir em troca.
Rezando, sentirás crescer em ti a paixão pela unidade do corpo de Cristo e de toda a família humana. A oração é a escola do amor, porque é nela que podes reconhecer-te infinitamente amado e nascer sempre de novo para a generosidade que toma a iniciativa do perdão e do dom sem cálculo, para além de qualquer grau de cansaço.
Rezando, aprende-se a rezar e saboreiam-se os frutos do Espírito que tornam a vida bela e verdadeira: “amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, mansidão e domínio de si” (Gl 5, 22).
Rezando, tornamo-nos amor e a vida adquire o sentido e a beleza para que Deus a quis.
Rezando, sentimos cada vez mais a urgência de levar o Evangelho a todos, até aos confins da Terra.
Rezando, descobrimos os dons do Amado e aprendemos, cada vez mais, a dar-Lhe graças em todas as coisas.
Rezando, vivemos. Rezando, amamos. Rezando, louvamos. E o louvor é a maior alegria e a maior paz do nosso coração inquieto, no tempo e para a eternidade.
Se tivesse de te desejar, ainda, o dom mais belo, se quisesse pedi-lo a Deus para ti, não hesitaria em pedir-Lhe o dom da oração. Eu peço-Lho. E tu não hesites em pedi-lo a Deus para mim. E para ti. A paz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam contigo. E tu n’Eles: porque rezando, entrarás no coração de Deus, escondido com Cristo n’Ele, envolvido pelo seu amor eterno, fiel e sempre novo.
Já o sabes: quem reza a Jesus ou a seu Pai ou invoca o seu Espírito, não reza a um Deus genérico e longínquo, mas reza em Deus, no Espírito e ao Pai pelo Filho. E do Pai, por meio de Jesus, no sopro divino do Espírito, receberá todo o dom perfeito, a ele conveniente e para ele desde sempre preparado e desejado. É o dom que nos espera. Que te espera.
(Fim).
Beijos da Golfer

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

A ORAÇÃO

CARTA SOBRE A ORAÇÃO (3ª Parte, Cont.)
A Eucaristia e a Beleza de Deus, Bruno Forte
Fica sabendo, no entanto, que em tudo isto não faltarão dificuldades: por vezes, não conseguirás fazer calar o barulho que há ao teu redor e em ti; por vezes, sentirás a fadiga ou mesmo a má vontade de te pores em oração; outras vezes, a tua sensibilidade reagirá, e qualquer acção parecer-te-á preferível a ficares em oração diante de Deus, considerado tempo “perdido”. Sentirás, enfim, as tentações do Maligno, que procurará, de todas as maneiras separar-te do Senhor, afastando-te da oração. Não tenhas receio: essas mesmas provas que tu vives, experimentaram-nas os Santos antes de ti, e amiúde muito mais difíceis que as tuas. Quanto a ti, continua a ter fé. Persevera, resiste e lembra-te de que a única coisa de que podemos verdadeiramente dar a Deus é a prova da nossa fidelidade. Com a tua perseverança salvarás a tua oração e a tua vida.

Virá a hora da “noite escura” em que tudo te parecerá árido e até absurdo nas coisas de Deus. Não receies. É essa a hora em que a lutar contigo está o próprio Deus: Ele apaga em ti todos os pecados, com a Confissão humilde e sincera das tuas culpas e o perdão sacramental; oferece a Deus mais ainda o teu tempo e deixa que a noite dos sentidos e do espírito se torne para ti a hora da participação na Paixão do Senhor. Nessa altura será Jesus a levar a tua cruz e a conduzir-te Consigo até à glória da Páscoa. Não te admirarás, então, se considerares deliciosa essa noite, porque a verás transformada para ti em noite de amor, inundada pela alegria da presença do Amado, repleta do perfume de Cristo, clareada com a luz da Páscoa.

Não tenhas receio, então, das provas e das dificuldades na oração: recorda somente que Deus é fiel e nunca te dará uma prova sem que te ofereça uma saída, e jamais te exporá a uma tentação sem que te dê a força para a suportares e venceres. Deixa-te amar por Deus: como uma gota de água que se evapora sob os raios do sol e sobe ao alto e regressa à terra como chuva fecunda ou orvalho consolador, assim deixa que todo o teu ser seja trabalhado por Deus, plasmado pelo amor das Três Pessoas divinas, absorto nelas e restituído à História como dom fecundo. Deixa que a oração faça crescer em ti a liberdade de todos os medos, a coragem e a audácia do amor, a fidelidade às pessoas que Deus te confiou e às situaçôes em que te meteste, sem procurar evasões ou consolações fáceis. Aprende, rezando, a viver a paciência de esperar os tempos de Deus, que não são os nossos tempos, e a seguir os caminhos de Deus, que tão frequentemente não são os nossos caminhos. (Continua)

Um beijo da Golfer

domingo, 13 de janeiro de 2008

ESTAR ATENTA AOS SINAIS ...

PIOR A EMENDA ....

Como membro da equipa sócio-caritativa da minha paróquia, por alturas do Natal, disponibilizei-me para levar um sem-abrigo a uma localidade, com o intuito de descobrirmos onde poderia morar a filha. O referido sem-abrigo tinha sabido, havia pouco tempo, que já era avô e, querendo conhecer o neto, perguntou-me se o lá o levava.

No dia seguinte, fui buscá-lo e lá partimos de carro. Chegados à localidade, perguntámos num café e, logo, se viu que conheciam de quem estávamos a falar: a sua ex-mulher, a filha, o genro e, obviamente, o netinho que devia ter agora 2 anos e era loiro.

Pedimos coordenadas e, depois de muitas explicações, lá fomos ver se encontrávamos a familia do meu Amigo sem-abrigo. Ele estava muito ansioso e expectante. Tão ansioso que não conseguiu resistir a beber um copo de vinho que, segundo ele, o acalmaria.

Embora o meu Amigo dissesse que conhecia o sítio como “a palma da sua mão”, o que era facto é que havia 9 anos que não ía àquela localidade, pelo que todas as referências que possuía, caíram por terra. Andámos a bater às portas, no intuito de descobrirmos onde morava a sua familia e, cerca de 2 horas e meia depois, disseram-nos que a filha do meu Amigo já não vivia com a mãe, mas que se tinha mudado para uma vivenda nova em determinada urbanização, e que não sabiam exactamente a morada.

O meu Amigo começava a desanimar. Que ainda se vinha embora e não conhecia o neto! Voltámos ao café inicial a pedir mais informações. E ele não resistiu a beber mais um copo de vinho. Deixei o meu número de telefone, no caso de alguém da familia ali aparecer, pedindo que me telefonassem, se houvesse alguma notícia do paradeiro da filha e do neto.

Vendo o desânimo do meu Amigo e numa última tentativa, voltámos atrás, para mais umas voltas. Andando por uns montes, fomos dar a uma quintarola onde existia uma casa parecida com a que nos tinham indicado. Entrámos com o carro pelo portão, mas a casa estava sem ninguém. À saída, inadvertidamente, rocei com o guarda-lamas no portão e fiz uma mossa no carro. Azar! Foi um aviso, a que não liguei importância.

Aqui, devia ter terminado a nossa busca, pois não dávamos com a dita casa e já se estava a tornar tarde. Mas, ainda voltámos atrás a ver se, numa última tentativa, dávamos com alguém daquela familia que nos pudesse levar à filha do sem-abrigo.

E o que é certo é que demos com a casa onde morava a ex-mulher, pensando que ela nos poderia indicar a morada correcta da filha.

Quem nos abriu a porta foi uma senhora muito mal humorada que, assim que viu o meu Amigo, começou a disparatar, a mandá-lo embora, que não queria conversas com ele. Ao ver esta reacção, interrompi-a e disse-lhe que apenas gostaríamos de saber a morada da filha para que o avô conhecesse o neto. Que não senhora! Não dava morada nenhuma, que a filha e o neto não queriam ver o avô e que ela agradecia que não os procurássemos mais.

Não tivémos outro remédio senão virmos embora, desiludidos, sobretudo o meu Amigo, com a reacção da dita senhora e sem nada podermos fazer.

Conclusão: devíamos ter vindo embora quando, na primeira tentativa, não encontrámos a casa; devíamos ter vindo embora, quando na segunda vez fiz a mossa no carro. Agora, acredito que eram sinais de Deus. Pelo menos o meu Amigo não teria ficado tão triste como ficou: não encontrávamos a casa e pronto. Numa próxima vez, quem sabe?

Mas insisti e fiz a minha vontade. No desejo de o ajudar, ignorei os sinais que me foram dados e, assim, o meu Amigo ficou pior do que se não tivéssemos encontrado ninguém. Ficou a saber que a familia não o quer, que não gosta dele, que o pôs completamente de parte.

E lá voltámos para Faro, ele a choramingar e cabisbaixo. Eu, muito triste e com algum sentimento de culpa...

São coisas que acontecem a quem quer ajudar, custe o que custar e não está atenta aos sinais do Alto, que nos chegam a toda a hora, sem que nos apercebamos ... Mea culpa!

Um abraço da Golfer

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A ORAÇÃO

CARTA SOBRE A ORAÇÃO (2ª Parte, Cont.)
A Eucaristia e a Beleza de Deus, Bruno Forte

Escuta a voz do Seu Silêncio (de Deus). Escuta a Sua Palavra de Vida: abre a Bíblia, medita-a com amor, deixa que a Palavra de Jesus fale ao coração do teu coração; lê os Salmos, onde encontrarás expresso tudo o que quererias dizer a Deus; escuta os Apóstolos e os Profetas: apaixona-te pelas histórias dos Patriarcas, do Povo eleito e da Igreja nascente, onde encontrarás a experiência da vida vivida no horizonte da Aliança com Deus. E quando tiveres escutado a Palavra de Deus, caminha ainda longamente pelas veredas do silêncio, deixando que seja o Seu Espírito a unir-te a Cristo, Palavra eterna do Pai.

Ao princípio, poderá parecer-te que o tempo para tudo isto é demasiado longo, que nunca mais passa: persevera com humildade, concedendo a Deus todo o tempo que consigas dar-Lhe, mas nunca menos do que o tempo que tinhas estabelecido dedicar-Lhe cada dia. Verás que de encontro em encontro a tua felicidade será premiada, e que aos poucos, o gosto pela oração crescerá em ti, e aquilo que ao princípio parecia inatingível, tornar-se-á cada vez mais fácil e belo. Compreenderás então que o que conta não é ter respostas, mas colocares-te à disposição de Deus; e verás que tudo o que tiveres apresentado a Deus ficará aos poucos transfigurado.

Assim, quando fores rezar com o coração em sobressalto, se perseverares, repararás que depois de teres rezado durante muito tempo não terás obtido respostas às tuas perguntas, mas as mesmas perguntas se terão desfeito como neve ao sol e no teu coração entrará uma grande paz: a paz de estares nas mãos de Deus e de te deixares conduzir docilmente por Ele, aonde Ele quiser conduzir-te. Então, o teu coração novo poderá cantar o cântico novo, e o “Magnificat” de Maria brotará espontâneamente dos teus lábios e será cantado pela eloquência silenciosa das tuas obras. (Continua)
Abraço
da Golfer com carinho

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A ORAÇÃO

Carta sobre a Oração (1ª parte)
A Eucaristia e a Beleza de Deus, Bruno Forte

Perguntas-me: porque é que eu devo rezar?
Respondo: para poderes viver.

Sim: para vivermos de verdade, temos de rezar. Porquê? Porque viver é amar. Uma vida sem amor não é vida. É uma solidão vazia, é prisão e tristeza. Só vive verdadeiramente quem ama. E só ama quem se sente amado, alcançado e transformado pelo amor. Como a planta que não faz desabrochar o seu fruto se não é banhada pelos raios do sol, assim o coração humano não se abre para a vida verdadeira e plena se não é tocado pelo amor. Ora, o amor nasce do encontro e vive do encontro com o amor de Deus, o maior e mais verdadeiro de todos os amores possíveis; melhor, o amor que ultrapassa todas as nossas definições e todas as nossas possibilidades. Rezando, deixamo-nos amar por Deus e nascemos para o amor, sempre de novo. Por isso, quem reza vive no tempo e para a eternidade. E quem não reza? Quem não reza corre o risco de morrer por dentro, porque lhe vão faltar, antes ou depois, o ar para respirar, o calor para viver, a luz para ver, o alimento para crescer e a alegria para dar sentido à vida.

Dizes-me: mas eu não sei rezar E perguntas-me: como devo rezar? Respondo-te: começa por dar um pouco de tempo a Deus. No começo, o importante não será que esse tempo seja muito, mas que Lho dês fielmente. Fixa tu mesmo o tempo que queres dar ao Senhor, e dá-Lho fielmente, quando te apetece e quando não te apetece. Procura um lugar tranquilo, onde porventura haja um sinal qualquer que te recorde a presença de Deus (um crucifixo, um quadro, a Bíblia, o sacrário com a Presença eucarística...). Recolhe-te em silêncio, invoca o Espírito Santo para que seja Ele a gritar em ti: “Abbá, Pai!”. Entrega o teu coração a Deus, mesmo se está desassossegado: não tenhas receio de Lhe dizer tudo, não só as tuas dificuldades e o teu sofrimento, o teu pecado e a tua incredulidade, mas também a tua revolta e o teu protesto, se os sentes dentro de ti.

Coloca tudo isto nas mãos de Deus: lembra-te que Deus é Pai-Mãe no amor, que tudo acolhe, tudo perdoa, tudo ilumina, tudo salva. Escuta o Seu Silêncio. Não pretendas ter logo respostas. Persevera. Como o Profeta Elias, caminha no deserto em direcção ao monte de Deus e, quando estiveres perto d’Ele, não O procures no vento, no terramoto ou no fogo, em sinais de força ou de grandeza, mas na voz do silêncio subtil (1Rm 19, 12). Não pretendas agarrar a Deus, mas deixa que Ele passe na tua vida e no teu coração, te toque a alma e Se deixe contemplar por ti, mesmo só de costas. (Continua)
Até breve e um abraço da
Golfer

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

SERÁ PRECISO REZAR HOJE?

Será preciso rezar?
Há meio século atrás, as pessoas tinham tempo para tudo, até para rezar. De manhã, ao levantarem-se, as crianças e adultos benziam-se e rezavam ao seu Anjo da Guarda.
Um a um, todos saíam de casa a fazer a oferta do seu dia ao Senhor.
Era a bênção que se pedia a Deus logo de manhã. À noite, como que numa acção de graças, toda a família se reunia à volta da mesa ou à lareira para rezar o “Terço”. No fim desta oração, os filhos, tanto as crianças como os adultos, pediam a bênção ao pai e à mãe, aos avós e aos tios, se algum estivesse presente. Era assim a vida na família, base da sociedade.

A sociedade identificava-se com a família. A família rezava, logo a sociedade rezava. E rezava-se também nas igrejas. Rezava a igreja toda. Hoje já não é assim. Deixou de haver família a rezar. Também a sociedade não reza. E a igreja... será que reza? Se atendermos ao que é sua missão e seu dever, podemos dizer que a igreja também não reza, a começar pelos padres nas suas igrejas, os quais com tantas tarefas, tanto que reunir, tanto que ensinar, tanto que cantar... não têm tempo para rezar. É certo que a cantar se reza duas vezes e também se pode rezar com a vida. Mas... porque rezou tanto Jesus, Ele que teve uma vida toda Oração?

Será preciso rezar hoje?
Se olharmos bem para Jesus, concluímos que sim. Se olharmos para Jesus com olhos de ver, concluímos que, para bem cantar e rezar algo com a vida, é indispensável dar lugar à oração, ao diálogo com Deus. Na oração, o sonho de Deus realiza-se. E o sonho de Deus leva por diante os nossos sonhos da vida e acção que o Evangelho propõe. Jesus está conosco neste caminho de vida reconciliada com a Criação que Ele restaurou. O nosso pecado é perdoado e o nosso tempo acrescido da Graça que não tem contornos. O nosso tempo faz-se eterno.

É errado dizermos que não temos tempo. Temos tempo para tudo que é agradável a Deus. Só não devíamos ter tempo para o mal, porque este não agrada a Deus. Acontece que o mal que existe em todos nós rouba-nos tempo. E também tira o tempo de oração. É preciso “vigiar” para não deixar fugir o tempo.
Com o tempo que foge, fogem muitas coisas boas que a vida tem para nos oferecer, nas inúmeras oportunidades que Deus nos dá para enchermos a nossa vida de beleza e grandeza da nossa identidade de filhos de Deus, identificados com Jesus, o orante por excelência. Jesus está em toda a oração e é na oração que melhor nos configuramos com Ele.

Será preciso rezar hoje?
Parece que neste nosso tempo, com etapas tão absurdas e tão confusas, o que faz mais falta é dar prioridade à oração. É sempre a rezar que estamos mais certos. E é na oração que melhor deixamos passar a imagem e semelhança de Deus que trazemos conosco, não para ser asfixiada dentro de nós, mas para cantar e sorrir para o mundo, em tom de alegria e esperança.
Autora: Margarida Rosa Vieira,
Transcrito por Anokas
Abraço e até breve!
Anokas

domingo, 6 de janeiro de 2008

SERVINDO SOPA A JESUS

SERVINDO SOPA A JESUS
(Original de Marilyn Ehle)

“Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. (Mateus, 25:40)

Depois de deixar a casa onde passara a Sua infância e a companhia da Sua familia, não há registos de Jesus ter uma casa própria. Na verdade, ao explicar os custos de O seguirem , Ele dizia: “As raposas têm tocas e as aves têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a Sua cabeça.”

E no entanto, sabemos de uma casa que Ele adorava visitar, onde sentia que podia aparecer sem ser anunciado e cujos anfitriões amava profundamente. Foi neste lar que Ele procurou refúgio alguns dias antes do Seu julgamento e morte.

Depois de Jesus ter entrado triunfalmente em Jerusalém, sentado num pequeno burro, o discípulo Mateus regista: “Ele ... saíu para a cidade de Betânia, onde passou a noite”. Será que Marta, Maria e Lázaro falaram calmamente nessa noite com o seu precisoso Jesus, adivinhando que esta podia ser a sua última reunião com Ele antes da chegada do horror? Será que Marta serviu sopa quente e pão, na ceia da família?

Que boas vindas terias tu dado a Jesus? Que comida terias preparado? Ele já não caminha fisicamente entre nós, mas ensinou-nos com ousadia que O podemos servir, tal como o fizeram os seus amigos em Betânia. “Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. (Mateus, 25:40)

A hospitalidade pode levar-nos a visões de comidas elaboradas ou a acolhimento em casas ricamente mobiladas, mas Jesus disse que podemos ser como os anfitriões de Betânia, sempre que servirmos o nosso próximo com humildade e alegria, sempre que fizermos das nossas casas, pequenas ou grandes, locais de refúgio para os que precisam de conforto. Por que não aproveitarmos as oportunidades para convidarmos os “irmãos de Jesus” para a nossa casa e, desse modo, experimentarmos a presença de Deus?

Senhor Jesus, abre os meus olhos para os que estão à minha volta e precisam do conforto da minha casa!
Ajuda-me a ser generosa na minha hospitalidade e amorosa no meu cuidado! Amén
Votos de Bom Ano com um
Abraço da Golfer!