domingo, 13 de janeiro de 2008

ESTAR ATENTA AOS SINAIS ...

PIOR A EMENDA ....

Como membro da equipa sócio-caritativa da minha paróquia, por alturas do Natal, disponibilizei-me para levar um sem-abrigo a uma localidade, com o intuito de descobrirmos onde poderia morar a filha. O referido sem-abrigo tinha sabido, havia pouco tempo, que já era avô e, querendo conhecer o neto, perguntou-me se o lá o levava.

No dia seguinte, fui buscá-lo e lá partimos de carro. Chegados à localidade, perguntámos num café e, logo, se viu que conheciam de quem estávamos a falar: a sua ex-mulher, a filha, o genro e, obviamente, o netinho que devia ter agora 2 anos e era loiro.

Pedimos coordenadas e, depois de muitas explicações, lá fomos ver se encontrávamos a familia do meu Amigo sem-abrigo. Ele estava muito ansioso e expectante. Tão ansioso que não conseguiu resistir a beber um copo de vinho que, segundo ele, o acalmaria.

Embora o meu Amigo dissesse que conhecia o sítio como “a palma da sua mão”, o que era facto é que havia 9 anos que não ía àquela localidade, pelo que todas as referências que possuía, caíram por terra. Andámos a bater às portas, no intuito de descobrirmos onde morava a sua familia e, cerca de 2 horas e meia depois, disseram-nos que a filha do meu Amigo já não vivia com a mãe, mas que se tinha mudado para uma vivenda nova em determinada urbanização, e que não sabiam exactamente a morada.

O meu Amigo começava a desanimar. Que ainda se vinha embora e não conhecia o neto! Voltámos ao café inicial a pedir mais informações. E ele não resistiu a beber mais um copo de vinho. Deixei o meu número de telefone, no caso de alguém da familia ali aparecer, pedindo que me telefonassem, se houvesse alguma notícia do paradeiro da filha e do neto.

Vendo o desânimo do meu Amigo e numa última tentativa, voltámos atrás, para mais umas voltas. Andando por uns montes, fomos dar a uma quintarola onde existia uma casa parecida com a que nos tinham indicado. Entrámos com o carro pelo portão, mas a casa estava sem ninguém. À saída, inadvertidamente, rocei com o guarda-lamas no portão e fiz uma mossa no carro. Azar! Foi um aviso, a que não liguei importância.

Aqui, devia ter terminado a nossa busca, pois não dávamos com a dita casa e já se estava a tornar tarde. Mas, ainda voltámos atrás a ver se, numa última tentativa, dávamos com alguém daquela familia que nos pudesse levar à filha do sem-abrigo.

E o que é certo é que demos com a casa onde morava a ex-mulher, pensando que ela nos poderia indicar a morada correcta da filha.

Quem nos abriu a porta foi uma senhora muito mal humorada que, assim que viu o meu Amigo, começou a disparatar, a mandá-lo embora, que não queria conversas com ele. Ao ver esta reacção, interrompi-a e disse-lhe que apenas gostaríamos de saber a morada da filha para que o avô conhecesse o neto. Que não senhora! Não dava morada nenhuma, que a filha e o neto não queriam ver o avô e que ela agradecia que não os procurássemos mais.

Não tivémos outro remédio senão virmos embora, desiludidos, sobretudo o meu Amigo, com a reacção da dita senhora e sem nada podermos fazer.

Conclusão: devíamos ter vindo embora quando, na primeira tentativa, não encontrámos a casa; devíamos ter vindo embora, quando na segunda vez fiz a mossa no carro. Agora, acredito que eram sinais de Deus. Pelo menos o meu Amigo não teria ficado tão triste como ficou: não encontrávamos a casa e pronto. Numa próxima vez, quem sabe?

Mas insisti e fiz a minha vontade. No desejo de o ajudar, ignorei os sinais que me foram dados e, assim, o meu Amigo ficou pior do que se não tivéssemos encontrado ninguém. Ficou a saber que a familia não o quer, que não gosta dele, que o pôs completamente de parte.

E lá voltámos para Faro, ele a choramingar e cabisbaixo. Eu, muito triste e com algum sentimento de culpa...

São coisas que acontecem a quem quer ajudar, custe o que custar e não está atenta aos sinais do Alto, que nos chegam a toda a hora, sem que nos apercebamos ... Mea culpa!

Um abraço da Golfer

1 comentário:

Anónimo disse...

Uma boa postagens, porque as postagens devem ser um reflexo daquilo que somos e fazemos na nossa vida, como a água dum lago é reflexo puro daquilo que está à sua volta.
Nesta postagens não concordo com a sua interpretação dos sinais de Deus, isto é, quando se refere aos sinais como estímulo para partir e assim afastar desta lamentalvel experiência o seu amigo sem-abrigo, aqui ainda concordo, mas acho que estes sinais eram mais, para que, antes de levar este seu amigo sem-abrigo, ao encontro da sua família, tivesse feito este percurso só, preparando o caminho e tornando-o bom, e assim depois de tudo preparado levar então o seu amigo sem-abrigo e de certeza o resultado seria outro.
E então, não será que Deus lhe pede agora que, já sabendo a dura e crua realidade desta família a ajude e aproxime, por outro método.
Deus é o meu tudo.